Desde criança, sempre gostei muito de espaços verdes, com árvores e de os descobrir escondidos no meio de prédios. Se calhar como todas as crianças que nascem na cidade e aprendem que o verde traz correr, jogar, deitar no chão, gritar.
Estivesse em que cidade estivesse, quando adolescente, olhava para um pedaço de terreno baldio e imaginava um espaço de convívio, um banco de jardim onde ler, uma relva onde estender a preguiça.
Com o passar dos anos, percebi que invariavelmente ao verde seguia o cinzento betão, ao espaço aberto convivido seguia o compartimentado, fechado.
Então aprendi que “o dinheiro forra todos os jardins a betão”. Apenas mais um aforismo negativo a juntar a uma filosofia de vida que sobressai em frases repetidas até à exaustão: “não vale a pena”, “isso só com cunha”, “são todos iguais”, “não é possível”, “é melhor que um pontapé nas costas”, “devias era estar contente com o que tens”, “nunca pior”, etc.
Há cerca de 2 anos e meio, com amigos, voltei a procurar um recanto verde entre os prédios. Lá estava ele, num sítio por onde passara centenas de vezes, sem ver. Era como se tivesse um encantamento e só pudesse ser visto por quem andava à procura. Mais tarde, ficaria conhecido como o Jardim Imaginário e que nome tão apropriado.
Durante este tempo de comunicação com os vizinhos e comerciantes das redondezas do terreno, pedidos à câmara municipal, de organização de protestos criativos, em que cada vez mais pessoas se deslumbravam com o jardim, podíamos transportá-lo nas palavras como um aforismo positivo. E assim o jardim existia em construção dentro de cada um e alimentava-se de entusiamo sempre que era partilhado.
Ainda não tenho a certeza se ele existia antes de ser visto e desconfio que o jardim se mostra de maneira diferente para cada pessoa. Mas alguma coisa tem em comum para todos e não é o verde porque esse tem tonalidades diferentes nem as árvores que se mexem com o vento. Acho que é o olhar refletido de todos os que o descobrem, todos os dias, por entre os prédios.
por Maria Vitor Mota