Encontro sobre a não-violência na Casa da Cultura de Paranhos – Porto

19 de maio de 2012

O encontro dividiu-se em 3 partes: iniciou-se com a passagem de um vídeo sobre a não-violência ativa; continuou com uma proposta de reflexão pessoal sobre a violência que se sofre e que se exerce, seguida de um intercâmbio em grupos; a última parte destinou-se à troca de experiências e de ideias sobre ações não-violentas, também em grupos.

No final apresentaram-se algumas iniciativas já programadas por alguns dos participantes:

  • 31 de maio, apresentação do Movimento Humanista e do Parque de Estudo e Reflexão Minho em Vila do Conde
  • 16 de junho, evento com associações sob o título “O sentido do trabalho social”, organizado pelo Centro de Estudos Humanistas

Também foi lançada a ideia de promover uma ação de sensibilização na Faculdade de Economia do Porto sobre o tema da violência económica.

Finalmente comentou-se a proposta de realizar uma exposição de iniciativas não-violentas lá para o final do ano.

Sofrimento e violência interna

Sofre-se por aquilo que acreditamos que está a acontecer, pelo que acreditamos que aconteceu ou que acontecerá.
Por isso, a violência interna tem três origens principais dentro de cada pessoa: as frustrações passadas, a desorientação atual e os medos acerca do futuro.

O sentido da vida desempenha um papel crucial na geração ou não de violência interna, na maneira como os seres humanos tratam os seus medos principais, ou seja, o medo da morte, da velhice, da pobreza e da solidão.

O sofrimento pessoal e social deve ser superado pela modificação das situações de apropriação ilegítima e violenta que produziram contradição no mundo.
No que diz respeito à metodologia de ação, o Humanismo rege-se pela ação não-violenta.
Ao mesmo tempo, denuncia qualquer forma de violência física, económica, racial, religiosa, sexual, psicológica e moral.

Como superar a violência?

Enquanto o ser humano não realizar plenamente uma sociedade humana, ou seja, uma sociedade em que o poder esteja no todo social e não apenas numa parte que submete o conjunto, a violência será o signo sob o qual se realizará toda a atividade social.

A não-violência promove uma nova atitude perante a vida e tem como ferramentas principais:

  • a não-colaboração com as práticas violentas;
  • a denúncia de todos os atos de violência e discriminação;
  • a desobediência civil face à violência institucionalizada;
  • a organização e mobilização social, voluntária e solidária;
  • o desenvolvimento das virtudes pessoais e das mais profundas aspirações dentro de cada um.

A metodologia da não-violência ativa tem raízes muito antigas em diferentes correntes filosóficas, religiões, códigos éticos, sistemas legais, etc.
Mais recentemente encontramos os exemplos de Gandhi e Martin Luther King, e a expressão mais completa da não-violência ativa no pensamento de Silo e na sua obra social.

Confundir não-violência com pacifismo conduz a numerosos erros.
O pacifismo encara temas como os do desarmamento, fazendo disso a prioridade essencial de uma sociedade, quando na verdade o armamentismo é um caso de ameaça de violência física que responde ao poder instituído por uma minoria que manipula o Estado.
O tema do desarmamento é de importância capital. No entanto, mesmo que tenha êxito na sua procura, o pacifismo não modificará por isso o contexto da violência.

Sobre a violência

A violência é o mais simples, frequente e eficaz modo de manter o poder e a supremacia, impor a própria vontade a outros, usurpar o poder, a propriedade e até as vidas alheias…

Há uma noção ingénua generalizada de que a violência é apenas física. Mas também se exerce violência quando se nega a liberdade das pessoas, as suas intenções e escolhas.
As diferentes formas de violência (física, económica, racial, religiosa) são expressões da negação daquilo que no outro é humano.

A contradição social é produto da violência. Esta violência manifesta-se na ação de despojar o ser humano ou conjuntos humanos de intenção e, evidentemente, de liberdade. A apropriação do todo social por uma parte do mesmo é violência.