A reconciliação

No encontro de 1 de abril conversamos sobre este texto (versão completa aqui)

Excerto do discurso de Silo nas JORNADAS DE EXPERIÊNCIAS realizadas em Punta de Vacas em maio de 2007

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Se é certo que procuramos a reconciliação sincera connosco mesmos e com aqueles que nos magoaram intensamente, é porque queremos uma transformação profunda da nossa vida. Uma transformação que nos tire do ressentimento em que, em suma, ninguém se reconcilia com ninguém e nem sequer consigo mesmo. Quando chegamos a compreender que no nosso interior não habita um inimigo, mas sim um ser cheio de esperanças e de fracassos, um ser em que vemos, numa curta sucessão de imagens, momentos belos de plenitude e momentos de frustração e ressentimento.

Quando chegamos a compreender que o nosso inimigo é um ser que também viveu com esperanças e fracassos, um ser em que houve belos momentos de plenitude e momentos de frustração e ressentimento, estaremos a pôr um olhar humanizador sobre a pele da monstruosidade.

Este caminho para a reconciliação não surge espontaneamente, do mesmo modo que não surge espontaneamente o caminho para a não-violência. Porque ambos requerem uma grande compreensão e a formação de uma repugnância física em relação à violência.

Não seremos nós que julgaremos os erros, próprios ou alheios; para isso, estará a retribuição humana e a justiça humana e será a altura dos tempos que exercerá o seu domínio, porque eu não quero julgar-me nem julgar… quero compreender em profundidade para limpar a minha mente de todo o ressentimento.

Reconciliar não é esquecer nem perdoar, é reconhecer tudo o que aconteceu e é propor-se sair do círculo do ressentimento. É passear o olhar, reconhecendo os erros em si mesmo e nos outros. Reconciliar em si mesmo é propor-se não passar pelo mesmo caminho duas vezes, mas sim dispor-se a reparar duplamente os danos produzidos. Porém, é claro que não podemos pedir àqueles que nos ofenderam que reparem duplamente os danos que nos causaram. Contudo, é uma boa tarefa fazer-lhes ver a cadeia de prejuízos que vão arrastando nas suas vidas. Ao fazer isto, reconciliamo-nos com quem tenhamos antes sentido como um inimigo, ainda que isto não faça com que o outro se reconcilie connosco, mas isso já é parte do destino das suas acções sobre as quais não podemos decidir.

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