O Humanismo

No encontro do dia 21 de janeiro trocamos impressões sobre este texto, excerto de uma alocução de Silo cujo texto integral se pode encontrar aqui.

Aproveito esta oportunidade de chegar a todos os pontos em que se congrega este conjunto humano que faz da Mensagem uma referência profunda. Porém, como é bom destacar, a estes lugares acorre não só gente que adere a esta espiritual, vaporosa e desorganizada Mensagem, mas também aqueles organizados membros do Movimento Humanista que trabalham esforçadamente por Humanizar a Terra. É a estes últimos que me dirijo especialmente nesta ocasião. Evidentemente, não devo nem posso opinar sobre o funcionamento ou as diversas actividades que desenvolve o Movimento Humanista, mas também não posso deixar de alentar esta empresa colossal que é tão fortemente requerida nas circunstâncias actuais. O mundo, mais do que noutros momentos, está a necessitar do Humanismo e nós estamos necessitados de Humanismo porque temos claramente urgência na humanização progressiva do mundo.

Quero destacar a necessidade da acção humanista em diferentes meios culturais e em diversos estratos populacionais, porque sucede, inversa e desgraçadamente, que os acontecimentos estão a marcar um transbordar da violência em todos os campos e uma deterioração de todas as referências nos indivíduos e nos povos. Não é ocioso realçar que o Humanismo Universalista tem hoje a possibilidade de criar consciência e acção não-violenta e de se constituir como referência para amplos sectores da população mundial.

É claro que o Humanismo, para ser eficaz, deve contar com um Movimento organizado, participativo e flexível, que dê especial importância à difusão das suas ideias e acções. Assim sendo, o Movimento Humanista deveria clarificar em si mesmo os seus traços fundamentais e, ao mesmo tempo, esclarecer os organismos a que dá origem e inspiração. Organismos sociais, culturais, políticos e frentes de acção, que se consideram humanistas, deveriam alinhar-se nas suas propostas básicas ao mesmo tempo que seguem uma estratégia geral do diverso e do convergente.

Desde logo, para clarificar em si mesmo os seus traços fundamentais e para esclarecer os organismos a que dá origem e inspiração, o Movimento deveria estudar e difundir os seus documentos fundacionais e os novos documentos que respondem às necessidades mais recentes. Este ponto é da máxima importância porque não se trata apenas de uma acção decidida e quase reflexa no meio social, mas sim da acção reflexiva que requer compreensão cabal daquilo que se faz. É forçoso compreender o sentido da acção e não aceitar a miscelânea de afirmações vazias que povoam os meios de difusão. É igualmente necessário chegar às populações através de exposições breves e consistentes formuladas quase unicamente através dos meios televisivos. Mas sem dúvida que a melhor difusão será aquela que se baseie não só em propostas de fundo como também em acções exemplares capazes de dar participação a amplos sectores da população.

(…)

Para terminar, amigos que estão nos diferentes parques, quero recordar as primeiras palavras do Documento Humanista que foram plasmadas a 5 de Abril de 1993 e que são com certeza pertinentes:

“Os humanistas são mulheres e homens desta época. Reconhecem os antecedentes do Humanismo histórico e inspiram-se nos contributos das diferentes culturas, não só daquelas que neste momento ocupam um lugar central. São, além disso, homens e mulheres que deixam para trás este século e este milénio e se projectam para um novo mundo.

Os humanistas sentem que a sua história é muito longa e que o seu futuro é ainda mais extenso. Pensam no porvir, lutando por superar a crise geral do presente. São optimistas, crêem na liberdade e no progresso social.

Os humanistas são internacionalistas, aspiram a uma nação humana universal. Compreendem globalmente o mundo em que vivem e actuam no seu meio imediato. Não desejam um mundo uniforme mas sim múltiplo: múltiplo nas etnias, línguas e costumes; múltiplo nas localidades, nas regiões e nas autonomias; múltiplo nas ideias e nas aspirações; múltiplo nas crenças, no ateísmo e na religiosidade; múltiplo no trabalho; múltiplo na criatividade.

Os humanistas não querem amos; não querem dirigentes nem chefes, nem se sentem representantes nem chefes de ninguém. Os humanistas não querem um Estado centralizado, nem um Para-Estado que o substitua. Os humanistas não querem exércitos policiais, nem bandos armados que os substituam.

Porém, entre as aspirações humanistas e as realidades do mundo de hoje, levantou-se um muro. Chegou, pois, o momento de derrubá-lo. Para isso, é necessária a união de todos os humanistas do mundo.”

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