Texto discutido no encontro do dia 15:
O jovem da cidade queria prestar um serviço à fazenda onde o hospedavam, e então pensou:
Antes de levar o cavalo para o campo, vou dar-lhe de beber. Ganho tempo e ficaremos sossegados o dia todo.
Mas o que é isso? Agora é o cavalo quem manda? Recusa-se a ir para o bebedouro e só tem olhos e desejos para o campo de luzerna! Desde quando são os animais que mandam? Venha beber, estou dizendo!…
E o camponês novato puxa a rédea e depois vai por trás e bate no cavalo com força. Finalmente!…O animal avança… Está à beira do bebedouro…
— Talvez esteja com medo… E se eu o acariciasse?… Olhe, a água é limpa! Olha! Molhe as ventas… Como! Não?… Veja só!…
E o homem mergulha bruscamente as ventas do cavalo na água do bebedouro. — Agora você vai beber!
O animal funga e sopra, mas não bebe.
O camponês aparece, irônico: — Ah! Você acha que é assim que se lida com um cavalo? Ele é menos estúpido que os homens, sabe? Ele não está com sede…
— Pode matá-lo, mas ele não beberá. Talvez ele finja que está bebendo, mas vai cuspir em você a água que está sorvendo… Trabalho perdido, meu velho!…
— Então, como se faz?
— Bem se vê que você não é camponês! Você não compreende que a esta hora da manhã o cavalo não tem sede; ele precisa é de uma luzerna fresca. Deixe-o comer até ele se fartar. Depois ele vai ter sede e você vai vê-lo galopar para o bebedouro. Nem vai esperar você dar licença. Aconselho mesmo que você não se intrometa… E quando ele beber você poderá puxar a rédea!
É assim que sempre nos enganamos, quando pretendemos mudar a ordem das coisas e obrigar a beber quem não tem sede…
In Pedagogia Do Bom Senso de Célestin Freinet