A oportunidade das ações

No encontro do dia 1 de novembro trocamos impressões sobre este texto, excerto do livro «Cartas aos meus amigos», terceira carta, de Silo, cujo texto integral se pode obter aqui.

12. A oportunidade das acções como avanço em direcção à coerência

Existe uma rotina quotidiana dada pelos horários, os cuidados pessoais e o funcionamento do nosso meio. No entanto, dentro dessas pautas há uma dinâmica e riqueza de acontecimentos que as pessoas superficiais não sabem apreciar. Há aqueles que confundem a sua vida com as suas rotinas, mas isto não é assim de todo, já que muito frequentemente têm que escolher dentro das condições que lhes impõe o meio. Na verdade, vivemos entre inconvenientes e contradições, mas convirá não confundir ambos os termos.

Entendemos por “inconvenientes” as moléstias e impedimentos que enfrentamos. Não são enormemente graves, mas claro que se são numerosos e repetidos aumentam a nossa irritação e fadiga. Certamente, estamos em condições de superá-los: não determinam a direcção da nossa vida, não impedem que levemos adiante um projecto. São obstáculos no caminho, que vão desde a menor dificuldade física a problemas em que estamos a ponto de perder o rumo. Os inconvenientes admitem uma gradação importante, mas mantêm-se num limite que não impede de avançar. Coisa diferente acontece com o que chamamos “contradições”. Quando o nosso projecto não pode ser realizado, quando os acontecimentos nos lançam numa direcção oposta à desejada, quando nos encontramos num círculo vicioso que não podemos romper, quando não podemos direccionar minimamente a nossa vida, estamos tomados pela contradição. A contradição é uma espécie de inversão na corrente da vida que nos leva a retroceder sem esperança. Estamos a descrever o caso em que a incoerência se apresenta com maior crueza. Na contradição, opõe-se o que pensamos, o que sentimos e fazemos. Apesar de tudo, sempre há possibilidade de direccionar a vida, mas é necessário saber quando fazê-lo. A oportunidade das acções é algo que não temos em conta na rotina quotidiana e isto é assim porque muitas coisas estão codificadas. Mas, no que se refere aos inconvenientes importantes e às contradições, as decisões que tomamos não podem estar expostas à catástrofe. Em termos gerais, devemos retroceder diante de uma grande força e avançar com resolução quando essa força se debilite. Há uma grande diferença entre o temeroso que retrocede ou se imobiliza ante qualquer inconveniente e aquele que actua sobrepondo-se às dificuldades, sabendo que, precisamente, avançando pode torneá-las. Acontece que, às vezes, não é possível avançar, porque se levanta um problema superior às nossas forças e arremeter sem cálculo leva-nos ao desastre. O grande problema que enfrentemos será também dinâmico e a relação de forças mudará, ou porque vamos crescendo em influência ou porque a sua influência diminui. Quebrada a relação anterior, é o momento de proceder com resolução, já que uma indecisão ou uma postergação fará com que novamente se modifiquem os factores. A execução da acção oportuna é a melhor ferramenta para produzir mudanças de direcção.

 

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