O comportamento coerente

No encontro do dia 18 de outubro trocamos impressões sobre este texto, excerto do livro «Cartas aos meus amigos», terceira carta, de Silo, cujo texto integral se pode obter aqui.

6. O comportamento coerente

Se pudéssemos pensar, sentir e actuar na mesma direcção, se o que fazemos não nos criasse contradição com o que sentimos, diríamos que a nossa vida tem coerência. Seríamos fiáveis para nós mesmos, ainda que não necessariamente fiáveis para o nosso meio imediato. Deveríamos conseguir essa mesma coerência na relação com outros, tratando os demais como queremos ser tratados. Sabemos que pode existir uma espécie de coerência destrutiva, como observamos nos racistas, nos exploradores, nos fanáticos e nos violentos, mas está clara a sua incoerência na relação porque tratam os outros de um modo muito diferente daquele que desejam para si mesmos. Essa unidade de pensamento, sentimento e acção, essa unidade entre o trato que se pede e o trato que se dá, são ideais que não se realizam na vida diária. Este é o ponto. Trata-se de um ajuste de condutas a essas propostas; trata-se de valores que, tomados com seriedade, direccionam a vida, independentemente das dificuldades que se enfrentem para realizá-los. Se observarmos bem as coisas, não estaticamente mas sim em dinâmica, compreenderemos isto como uma estratégia que deve ir ganhando terreno à medida que passe o tempo. Aqui sim valem as intenções, ainda que as acções não coincidam no princípio com elas, sobretudo se aquelas intenções são mantidas, aperfeiçoadas e ampliadas. Essas imagens do que se deseja conseguir são referências firmes que dão direcção em todas as situações. E isto que dizemos não é tão complicado. Não nos surpreende, por exemplo, que uma pessoa oriente a sua vida para conseguir uma grande fortuna, no entanto, essa pessoa pode saber antecipadamente que não a conseguirá. De qualquer maneira, o seu ideal impulsiona-a ainda que não tenha resultados relevantes. Então, por que razão não se pode entender que mesmo sendo a época adversa ao trato que se pede com o trato que se dá, mesmo sendo adversa a pensar, sentir e actuar na mesma direcção, esses ideais de vida possam dar direcção às acções humanas?

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