Acerca do humano

No encontro de 4 de outubro lemos e conversamos sobre o seguinte texto, excerto de uma conferência de Silo cuja versão integral se pode obter neste link.

«Enquanto registar do outro a sua presença “natural”, o outro não passará de uma presença objectal, ou particularmente animal. Enquanto estiver anestesiado para percepcionar o horizonte temporal do outro, o outro não terá nenhum sentido além do para-mim. A natureza do outro será um para-mim. Mas ao constituir o outro num para-mim, constituo-me e alieno-me em meu próprio para-si. Quero dizer: “Eu sou para-mim” e com isso fecho o meu horizonte de transformação. Quem coisifica, coisifica-se e com isso fecha o seu horizonte.

Enquanto não experimentar o outro fora do para-mim, a minha actividade vital não humanizará o mundo. O outro deveria ser para o meu registo interno uma cálida sensação de futuro aberto que nem sequer termina no sem-sentido coisificador da morte.

Sentir o humano no outro é sentir a vida do outro num belo e multicolor arco-íris, que mais se distancia na medida em que quero deter, apanhar, arrebatar a sua expressão. Tu afastas-te e eu reconforto-me, se é que contribuí para romper as tuas correntes, superar a tua dor e sofrimento. E se vens comigo é porque te constituis num acto livre como ser humano, não simplesmente porque nasceste “humano”. Eu sinto em ti a liberdade e a possibilidade de constituir-te em ser humano. E os meus actos têm em ti o meu alvo de liberdade. Então, nem a tua morte pode deter as acções que puseste em marcha, porque és essencialmente tempo e liberdade. Amo, portanto, no ser humano, a sua humanização crescente. E nestes momentos de crise, de coisificação, nestes momentos de desumanização, amo a sua possibilidade de reabilitação futura.»

Um pensamento em “Acerca do humano”

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