Projeto local de democracia real

Com este projeto aspiramos a mobilizar as pessoas que vivem e trabalham em Paranhos para que sejam protagonistas da mudança pessoal e social, na direção de um mundo mais justo e solidário, começando pela comunidade onde vivem ou trabalham.

Para isso é necessário promover a comunicação direta entre as pessoas, o estudo e a reflexão, criando âmbitos onde se possa aprofundar o sentido das nossas vidas e em conjunto discutir os problemas económicos e sociais, e onde se ponham em marcha planos de ação de acordo com as soluções encontradas.

Cartaz de divulgaçãoComeçamos esta semana a colar cartazes que convidam à participação num jornal local e em produções vídeo. Estas iniciativas visam precisamente facilitar a criação daqueles âmbitos e dar voz à população.

Ao mesmo tempo, vamos iniciar a realização de um inquérito que nos permita recolher matéria para investigação e trabalho, para além de divulgar o projeto aos habitantes. » inquérito

 

 

Extrato do livro «Cartas aos meus amigos» de Silo:

«3. A acção pontual

Ainda restam militantes políticos que se inquietam em saber  quem será primeiro-ministro, presidente, senador ou deputado. É possível que não compreendam rumo a que desestruturação estamos a avançar e que pouco significam as mencionadas “hierarquias” em ordem à transformação social. Também haverá mais de um caso em que a inquietude está ligada à situação pessoal de supostos militantes preocupados pela sua posição no âmbito do negócio político. A pergunta, em todo o caso, deve estar referida a compreender como priorizar os conflitos nos lugares em que cada um desenvolve a sua vida quotidiana, e a saber como organizar frentes de acção adequadas com base nesses conflitos. Em todos os casos, deve ficar claro que características devem ter as comissões laborais e estudantis de base, os centros de comunicação directa e as redes de conselhos vicinais; o que se deve fazer para dar participação a todas as organizações mínimas em que se expresse o trabalho, a cultura, o desporto e a religiosidade popular. E aqui convém esclarecer que quando nos referimos ao meio imediato das pessoas, formado por companheiros de trabalho, parentes e amigos, devemos mencionar, em particular, os lugares em que se dão essas relações.

Falando em termos espaciais, a unidade mínima de acção é a comunidade de vizinhos, na qual se percepciona todo o conflito, mesmo que as suas raizes estejam muito distantes. Um centro de comunicação directa é um ponto vicinal no qual se há-de discutir todos os problemas económicos e sociais, todos os problemas de saúde, de educação e de qualidade de vida. A preocupação política consiste em priorizar essa vizinhança, antes do que o município, do que o condado, do que a província, do que a região ou do que o país. Na verdade, muito antes de se formarem os países, existiam as pessoas congregadas como grupos humanos que, ao se radicarem, se converteram em vizinhos. Depois, e à medida que se foram montando superestruturas administrativas, foi-se-lhes arrebatando a sua autonomia e o seu poder. Desses habitantes, desses vizinhos, deriva a legitimidade de uma dada ordem e de aí se deve erguer a representatividade de uma democracia real. O município deve estar nas mãos das unidades vicinais e, se isto é assim, não se pode planear como objectivo colocar deputados e representantes em diferentes níveis, como acontece na política cupular, já que essa colocação deve ser consequência do trabalho da base social organizada. O conceito de “unidade vicinal” tanto é válido para uma povoação extensa como para uma povoação concentrada em bairros ou edificações em altura. A conexão entre unidades vicinais deve decidir a situação de uma dada comuna e essa comuna não pode, inversamente, depender nas suas decisões de uma superestrutura que dita ordens. No momento em que as unidades vicinais ponham em marcha um plano humanista de acção municipal e esse município ou comuna organize a sua democracia real, o “efeito demonstração” far-se-á sentir muito mais além dos limites desse bastião. Não se trata de planear um gradualismo que deva ir ganhando terreno até chegar a todos os cantos de um país, mas sim de mostrar, na prática, que num dado ponto está a funcionar um novo sistema.»

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